sexta-feira, 27 de abril de 2007

terça-feira, 24 de abril de 2007

Riso



Desde criança ria ao rezar o Pai Nosso. Quando chegava ao não nos deixeis cair em tentação, desatava a rir. De nada adiantaram os pedidos da mãe. Tampouco, os da avó. Menos ainda os do pároco que, cansado daquela heresia, expulsou-a da igreja quando desatou a rir em pleno dia da primeira comunhão. Para vergonha eterna da família. Exceto do pai. O pai nada dizia. Mas ria baixinho pra mãe não perceber. E sempre pulava aquela parte nas raras vezes em que rezava.

Assim, de riso em riso, cresceu sem nunca se propor a não cair em tentação. Caía sempre. E era feliz.

Pensava nisso agora, ao ouvir o recado dele na secretária eletrônica, marcando para encontrá-la no dia seguinte. Três e meia da tarde? Que hora horrível, pensou, já imaginando a desculpa que daria para sair cedo do trabalho. Médico, dentista? Doença na família? Não, já tinha 'adoecido' todo mundo, não dava mais. Quem sabe uma enxaqueca? Ou uma terrível cólica menstrual? Riu. Depois decidiria. O certo é que, por nada nesse mundo, deixaria de encontrá-lo. Cairia em tentação uma vez mais. E, mais uma vez, seria feliz.
Amanhã, como ontem e para sempre.
Amém.

quinta-feira, 19 de abril de 2007

o peso da Lua...


Leminsk é assim... vc não sabe o que verdadeiramente gosta de ler... até esbarrar com ele e seu cinismo, sua covardia, sua bobagem poética...

Esse cara me ensinou a encontrar a porta do chão... a porta do céu... e me fechou os horizontes para tudo que não tem poesia e sentido...
Uma lua bisbilhoteira me avisou que algumas coisas ainda precisam ser ditas... sentidas... abusadas... desgastadas... depreciadas... destruídas...
enfim... vividas!

"...Carrego o peso da lua,
Três paixões mal curadas,
Um saara de páginas,
Essa infinita madrugada.

Viver de noite
Me fez senhor do fogo.

A vocês, eu deixo o sono.
O sonho, não.

Esse... eu mesmo carrego..."

terça-feira, 10 de abril de 2007

varanda...


Eu quero o sol
Ao despertar
Brincando com a brisa
Por entre as plantas
Da varanda
Em nossa casa

Eu quero amar
É lógico
Que o mundo não me odeia
Hoje eu sou mais romântico
Que a lua cheia

Você mostrou pra mim
Onde encontrar assim
Mais de um milhão
De motivos pra sonhar, enfim
E é tão gostoso ter
Os pés no chão e ver
Que o melhor da vida

...vai começar...

terça-feira, 3 de abril de 2007

Tarde demais...


Conheço uma mulher, já quase cinqüentona, que passou boa parte da sua vida apaixonada pelo primeiro namorado. Eles tiveram um romance caliente lá nos seus 18 anos, depois se separaram e cada um tomou seu rumo. Ele casou e teve filhos, ela casou e teve filhos. Nas raras vezes em que se cruzavam pelas ruas da cidade, cumprimentavam-se, perguntavam como andava a vida de um e de outro, mas nada além disso. A verdade é que ela preservou o sentimento que tinha por ele por muitos anos, mesmo sendo feliz no seu casamento. Era um amor de estimação. Até que esse amor, tão sem ressonância, tão sem retribuição, tão sem aditivos, um dia evaporou. Perdeu o prazo de validade. Expirou.

Dia desses esta mulher recebeu um telefonema. Era ele. Oi, tudo bom? Há quanto tempo? Trivialidades de quem não se fala há anos. Ela perguntou: o que você conta? Ele respondeu que estava ligando para dizer uma única coisa: eu te amo.

Corta. Não teve happy end. Ela agradeceu o telefonema, desligaram e ambos seguiram suas vidas. Conversando com ela sobre isso, senti sua felicidade e desilusão ao mesmo tempo. Felicidade, logicamente, por ter deixado marcas profundas no coração dele: nem em sonhos ela imaginou que ele também tivesse levado esse sentimento tão adiante. E a tristeza veio da falta de ressonância, mais uma vez. Por que a demora? Por que a falta de sincronia? Como teria sido se ele houvesse dito isso alguns anos antes? Agora já não adiantava.

A beleza e a tristeza da vida podem estar em situações como esta: descobrir, tarde demais, que se ama uma pessoa. Pode acontecer até com quem está ao nosso lado neste instante. Parece que é um amor morno e sem graça, e que se acabar, tanto faz, e só daqui a muitos anos descobrir que nada era mais forte e raro do que este sentimento. Tarde demais é uma expressão cruel. Tarde demais é uma hora morta. Tarde demais é longe à beça. Não é lá que devemos deixar florecer nossas descobertas.

Martha Medeiros